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Resenha do livro: O que é lugar de fala?

Livro de Djamila Ribeiro

capa do livro O que é lugar de fala de Djamila Ribeiro

 O livro O que lugar de fala? é o primeiro volume da coleção Feminismos Plurais coordenada pela filósofa, feminista, professora e escritora Djamilla Ribeiro. A coleção tem ao todo oito volumes que falam sobre os temas feminismo negro, apropriação cultural, intolerância religiosa, racismo cultural  entre outros. O livro é dividido em quatro capítulos: Um pouco de história; Mulher negra: o outro do outro; O que é lugar de fala? e o último Todo mundo tem lugar de fala.

 A primeira parte fala sobre a história do feminismo negro, logo na primeira página vemos o discurso de Soujouner Truth feito na Convenção dos Direitos da Mulher em 1851 em Akron aonde ela faz vários questionamentos sobre os direitos das mulheres e repete várias vezes a pergunta: e eu não sou mulher? O discurso de Truth serve como base para o principal debate feito neste capítulo e  é relacionado com as ideias de Giovana Xavier, Lélia Gonzalez, Linda Alcoff e bell hooks.

 Neste capítulo é mostrado como as feministas negras foram excluídas e silenciadas nas ondas do feminismo pelo fato de que os seus direitos e o racismo não serem a principal preocupação das feministas é questionado o por que as vozes esquecidas pelo feminismo hegemônico demoraram tanto tempo  para serem ouvidas, é feita uma reflexão sobre a ausência de mulheres negras e indígenas no feminismo.

 Ainda nesse capítulo é falado sobre a opressão de caráter social, é introduzido o termo feminino afrolatinoamericano, e criticado "a combinação entre racismo e sexismo que  implica em sermos vistas como intrusas por pessoas de mentalidade estreita", o capítulo finaliza expondo as críticas que feministas negras escutam por serem vistas como identitárias ou como parte de movimentos identitários.

 O segundo capítulo, " Mulher negra: o outro do outro", descreve a necessidade das mulheres negras de se auto definirem. Nele é falado sobre o conceito do Outro criado por Simone Beauvoir em 1949, de acordo com ela  "a relação que os homens mantêm com as mulheres seria esta: da submissão e dominação, pois estariam enredadas na má-fé dos homens que as veem e as querem como um objeto".

 Para que possamos ter uma visão mais ampla do conceito do Outro é introduzido o pensamento de Grada Kilomba,  para ela a mulher negra é o Outro do Outro, são a antítese da branquitude e da masculinidade. Além de Kilomba são citadas outras autoras, pesquisadoras e feministas como Sueli Carneiro, Jurema Werneck, Patrícia Hill Collins e Audre Lorde para reforçar  os  argumentos de "se não se nomeia uma realidade, sequer serão pensadas melhorias para uma realidade que segue invisível" e a antítese da branquitude e da  masculinidade.

 Os argumentos e conceitos dessas autoras também são usados para explicar o termo outsider within que em tradução literal significa “forasteira de dentro”, a autora explica que “para Collins, a mulher negra dentro do movimento feminista ocupa esse lugar de “forasteira de dentro”, por ser feminista e pleitear o lugar da mulher negra como sujeito político, mas ao mesmo tempo ser uma de fora”, o capítulo termina fazendo uma crítica à evasão de responsabilidade das mulheres brancas.

 O terceiro capítulo se relaciona com o primeiro e segundo ao resgatar os alguns dos temas tratados anteriormente para explicar o tema que dá título ao livro O que é lugar de fala?, nesse capítulo é feito a conversação entre as obras das feministas Patrícia Hill Collins, Gayatri Spivak e Grada Kilomba. Essas autoras explicam o que é lugar de fala através do conceito de feminist stand point que em tradução literal significa ponto de vista feminista.

 Através dessas autoras é discutido alguns temas como a localização dos grupos nas relações de poder, é analisado o  ponto de vista e lugar de fala pela perspectiva individual, é discutido a importância que dão a ação individual, a imposição de ter que escolher apenas uma causa para lutar quando se é mulher, negra e trabalhadora, a autora faz uma brincadeira sobre esse último tema ao dizer "não posso dizer que luto contra o racismo e amanhã, às 14h25, se der tempo, eu luto contra o machismo, pois essas opressões agem de forma combinada".

 O capítulo termina  com a história da escrava Anastácia que foi obrigada a usar uma máscara para cobrir a boca a partir dessa história foi  questionando o uso da máscara do silêncio é são feitos  alguns questionamentos de como é possível retirar  essa máscara,  por que da mulheres negras usarem essa máscara de silêncio e o que se pode fala quando é ganhado espaço para falar?

 O quarto capítulo, Todo mundo tem lugar de fala, tem apenas cinco páginas e faz um resumo de tudo que foi tratado no livro, expondo também críticas que são comum escuta quando se fala do lugar de fala entre as críticas estão as de que "conceito de lugar de fala visa restringir a troca de ideias, encerrar uma discussão ou impor uma visão", para confrontar  essa crítica a autora usar os argumentos de Grada Kilomba.

 As duas últimas páginas do capítulo falam sobre a epistemologia dominante, a epistemologia da verdade e terminam trazendo a reflexão de que: 

 -Há pessoas que dizem que o importante é a causa, ou uma possível “voz de ninguém”, como se não fôssemos corporificados, marcados e deslegitimados pela norma colonizadora. Mas, comumente, só fala na voz de ninguém quem sempre teve voz e nunca precisou reivindicar sua humanidade.

 Ao terminar livro de ler o livro de Djamila Ribeiro  conseguimos compreender o que é o femismo negro e qual é a sua importância, o que é o Outro,  o que é o lugar de fala, o que é  outsider within e feminist stand point. Compreendemos esses conceitos  através de Sojourner Truth, Lélia Gonzalez, Simone Beauvoir, Patrícia Hill Collins, Gayatri Spivak, Grada Kilomba e outras autoras citadas ao longo do livro.

 A leitura do livro se mostra importante para quem conhecer mais sobre esses conceitos, por se por um livro com poucas páginas que possui uma linguagem fácil de entender é recomendado também para aqueles que não conhecem esses termos e conceitos e querem descobrir o que significam e quais são a sua importância. Ao final do livro nos deparamos ainda com as notas da autora que contém na íntegra todas as citações que foram usadas ao longo do  livro. Concluímos assim a  leitura do livro com a sensação boa  de querer saber mais causas demonstradas no livro.

Autora: Tâmily Prata

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