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Resenha do livro: Intolerância religiosa?

Livro de Sidnei Nogueira 

capa do livro Intolerância religiosa de Sidnei Noguira

 Sidnei Nogueira é babalorixá, pesquisador, mestre e doutor em Semiótica pela Universidade São Paulo. Intolerância religiosa é o oitavo livro da coleção feminismos plurais coordenada pela filósofa e feminista Djamilla Ribeiro. O autor  do livro classifica  como seu público alvo todos os estudantes do ensino fundamental ao ensino superior, porém qualquer pessoa que queira saber o que é a intolerância  contra as religiões de matriz africana pode ler o livro. 

 O livro é dividido em seis partes: Introdução;  Caminhos da história da intolerância religiosa; A verdade sobre a intolerância religiosa é branca: mais um dos tentáculos do racismo; Da perseguição à cura: epistemologia negra como possibilidade desconstrução do racismo religioso; a penúltima parte é composta por notas e a última parte são as referências bibliográficas.  

 Seguindo o padrão da coleção, o livro Intolerância religiosa logo em suas primeiras páginas tem um poema e o escolhido dessa vez foi um poema de Amílcar Cabral que fala sobre um grito, um grito de revolta. Para começar e para que o leitor saiba o quão grave é o nível de intolerância religiosa do país, logo na introdução há uma epígrafe de parte do livro; Orixás, cablocos e guias: deuses ou demônios do bispo Edir Macedo. O autor usa a epígrafe que apesar de ter apenas sete linhas contém racismo de uma forma disfarçada para explicar como declarações como essa contribuem para que haja uma conversão em massa das religiões de matriz africana.

 Para exemplificar como o preconceito contra as Comunidades Tradicionais de Terreiros-CTTro funciona e como ele é praticado  principalmente por seguidores de outras religiões em especial evangélicos o autor cita o nome do pastor Silas Malafaia, que já demonstrou várias vezes o seu preconceito contra tudo que não seja parte da sua religião evangélica, nesta parte tem uma tabela que mostram os nomes de cidades que possuem letreiros na entrada com frases que exaltam os evangélicos, a ‘‘cristãocrasia’’ como chama o autor.

 O segundo capítulo mostra como o preconceito religioso não é recente e como ele foi modificado ao longo dos anos, nessa parte o autor nos fala sobre o que é estigmatizar, qual é o seu conceito e porquê a estigmatização é praticada: "estigmatiza-se para excluir, segregar, apagar, silenciar e apartar do grupo considerado normal e de prestígio".

 Como o título do capítulo sugere, o autor descreve a história da intolerância religiosa, mas não apenas da que ocorre com a matriz africana mas também a que ocorre com os indígenas, que eram considerados pelos jesuítas como praticantes da idolatria e da feitiçaria. Neste capítulo é relembrado os atos de perseguição contra diversas religiões, o autor cita Holocausto como exemplo para lembra que a intolerância religiosa foi um dos motivos que causou a morte de milhares de pessoas durante a segunda guerra mundial.

 Ainda nesse capítulo é mostrado como o conceito de intolerância religiosa é racista e preconceituoso, pois "quem tolera não respeita, não quer compreender, não quer conhecer, é algo feito de olhos vendados e de forma obrigatória". Para terminar esta parte somos convidados a observar e analisar os dados de uma pesquisa sobre o número de alunos e professores com religiões de matriz africanas feita em cinco escolas em São Paulo e uma tabela com os dados sobre denúncias de discriminação religosa feita em  2018.

 No capítulo: A verdade sobre a intolerância religiosa é branca: mais um dos tentáculos do racismo, é dada continuação à discussão sobre a expressão intolerância religiosa. São usados os argumentos do Pai Nildo de Oxaguian e do babalorixá Daniel Oxaguian para demonstrar que essa não é a expressão mais adequada para ser usado no Brasil porque outras religiões não sofrem com esse mesmo tipo de perseguição e o própria palavra tolerar é uma palavra que exclui.

Para substituir esse conceito é apresentado o conceito de racismo religioso e para explicar melhor esse conceito o autor cita   Mãe Nádia Omi Odô de Ologunedé. Ao longo do capítulo podemos perceber porquê o termo intolerância religiosa é amplamente aceito pela maioria das pessoas.

 - É provável que o termo “intolerância” seja mais aceito por conta dos mitos da democracia racial e da democracia religiosa (laicidade). No Brasil tudo o que colocar o povo brasileiro em uma posição cordial será mais aceito do que qualquer noção que confrontá-lo ou que pode colocá-lo na posição de extremista, excludente e violento. 

Finalizando a terceira parte do livro o autor explicar o que é a imolação e qual é o seu objetivo: 

 -A imolação é uma grande metáfora. Imola-se para agradecer às forças-consciências divinas ancestrais pela possibilidade de ter o que comer, pela manutenção da sua vida e a dos seus, pela possibilidade de existir e ser de forma íntegra. Nossos entes divinos não são nada distantes ou apartados de nós. Eles comem conosco, pois somos parte de um coletivo que atravessa dimensões. Assim, alimenta-se e imola-se para nutrir-se em todos os sentidos que o verbo nutrir possa atingir, física e metafisicamente.

 O ritual é descrito de forma simples e detalhada e qualquer um pode entender, são descritos os nomes de cada parte do ritual, o autor também descreve qual é o nome dado aos que fazem parte do ritual. Desde do momento em que o animal chega ao terreiro para "esfriar", ao canto das folhas até o momento em que o animal é morto pelo Ògá Aṣògún (cargo responsável pela imolação) com suas respectivas "Ìbọsẹ" (meias) tudo é detalhado pelo autor. 

 O quarto capítulo: Da perseguição à cura: epistemologia negra como possibilidade de desconstrução do racismo religioso, fala da epistemologia de Exu, da encruzilhada, da mulher-útero e da força masculina na presença do Egungun, do conservadorismo e o motivo dele não suporta a diversidade. O babalorixá ao falar da encruzilhada relembra que “é preciso que voltemos para o centro da encruzilhada ou viveremos angustiados por escolhas desumanizantes e mortais”.

 O autor também fala da colonialidade do poder (o que é, e ao que se refere), do afossentido  e das dificuldades enfrentadas por aqueles que buscam o respeito e como tudo do candomblé se torna demonizável para pessoas racistas, a encruzilhada é bastante citada durante o capítulo. A quarta parte termina nos lembrando que “são as escolhas que  definem o caminho” e que somos nós os responsáveis por essas decisões.

 A quinta e sexta parte são notas e referências bibliográficas usadas pelo autor, a parte de notas é interessante para quem deseja saber sobre os nomes e expressões usadas pelo autor durante o livro. 

 Ao terminar de ler o livro: Intolerância religiosa a sensação que fica é de que precisamos conhecer mais sobre esse assunto que afeta milhares de pessoas, precisamos saber qual a importância de mudar o conceito de intolerância religiosa para racismo religioso. Terminamos a leitura com muitos questionamentos respondidos e ao mesmo tempo várias perguntas sobre o racismo religiosos.

 Sendo assim o livro é recomendado para todos aqueles que não conhecem sobre esse tema tão relevante para sociedade e  estão dispostos a aceita que o racismo religiosos existe e que devemos lutar contra ele do mesmo modo que lutamos contra todos os outros tipos de racismo e preconceito.

Autora: Tâmily Prata

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